Page 46 - Da Terra
P. 46
Toninho já sabia que na véspera era preciso fazer o que a mãe chamava de fermento que ficava a levedar. Era costume
guardar sempre um bocado de massa da cozida anterior, o chamado crescente.
Amassado que estava o pão, a mãe fazia uma cruz na massa e abafava o pão com uma toalha ou duas, deixando-o levedar.
Quando a cruz es vesse desfeita era altura de ir acender o forno. Toninho também aprendeu a preparar o forno.
Se bem que uma vez, nos primeiros tempos, querendo despachar o trabalho, colocou lenha de oliveira com rama e tudo e
aquilo não estava a pegar, não acendia. Deitou um fósforo acesso lá para dentro. E quando o fósforo entrou, aquilo
acendeu-se de repente, apanhou-lhe um pouco da cara. Por sorte não lhe apanhou a vista.
- Oh Toninho, foi assim que a mãe te ensinou??
Naquela altura o Toninho nem percebeu bem o que nha feito mal. Até pensou que talvez fossem as benzeduras que a mãe
fazia. É que ao contrário da vizinhança que benzia o pão rezando ao senhor, a mãe de Toninho, depois de deitado o pão no
forno, virava o rabo e dizia:
- Que cresças tanto tu como as banhas do meu cu.
Houve então uma vez que a mãe, para conseguir pôr mais alguma
coisa na mesa, passou a trabalhar na costura na casa de uma a.
Ela saiu de manhã e chamou o Toninho e disse-lhe:
- Olha, ficas aqui com dinheiro. Quando o padeiro vier, compras pão.
Peneiras a farinha à tarde e amassas. À volta das 5h, 5h30 a ver se tens
o forno ao jeito e a massa ao jei nho para a mãe depois vir e tender o
pão e deitá-lo no forno.
Acontece que Toninho já nha consciência dos sacri cios dos pais para trazer algum dinheiro para casa. Então ficou a olhar
para aquele dinheiro e decidiu não comprar pão. Guardou o dinheiro e disse aos irmãos:
- Eu vou cozer o pão sozinho.
46 47